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"Gosto de quebrar paradigmas, escrever sobre o que me preocupa, torna-me um ser mais consciente"
Aqui está o meu novo livro A violência doméstica, o cancro, a solidão nos idosos, o conflito de gerações, o rapto de um filho, o sentimento de culpa, um amor platónico, são algumas temáticas abordadas no livro. Um homem que quase morre pelo amor de uma mulher, descobre no revés da vida, que há muitas formas de amar. Porque a vida não é o que almejamos, é o que é. No seu ato nobre de voluntariado conhece Dona Leonilde, uma velhinha que vive numa solidão imensa culpando-se pelo rapto do neto. Esse homem, para lhe mitigar o sofrimento assume esse papel, em passagens comoventes, de compaixão e solidariedade. Mas é nas palavras de Maria Rita, que escutamos um grito gutural, à nossa consciência, como cidadãos e seres-humanos. Ela descreve os abusos e o modo como viveu a violência doméstica e o cancro. A esta tela, pincelada com matizes cinzentas, há toques coloridos, repletos de humor e sátira. É um livro apaixonante, quase poético, que vai fazer-nos repensar sobre diversas situações. As personagens são circulares, como se ganhassem asas e evolam num céu de palavras prolixas. Nada é previsível e no fim do livro muitas são as surpresas. No que concerne, à capa, o pássaro estava preso na sua gaiola e assistiu a toda a desdita da mulher, às agressões que lhe foram infligidas e condoeu-se com a sua dor, daí o título metafórico, "Os Pássaros também choram".
O sofrimento de uma mãe
"Minha filha. Filha minha! Dor de alma, partiste molestada por esse cancro maldito, sem que me perdoasses. Sou velha, toda eu sou velha, perdi o teu filho e agora entendo o teu sofrimento. Quando perdemos um filho, já não somos deste mundo. O que nos sobra? Venham, venham todos, mal me seguro das pernas e estou a um fio da loucura, mas chego para vós! Venham esmifrar a minha pequena reforma, venham saltimbancos, sanguessugas, que eu já não sou desta vida. Calcorreio uma gaiola escura e solitária, a que chamo casa, onde o silêncio é mais ruidoso que o peso das vossas moedas a tilintar nos cofres. O meu tesouro foi roubado. Não tenho nada, nada sou! Quero lá saber da fome, ou da guerra, sou velha, mais velha que a minha idade e o meu sofrimento é maior que todos vós. Tirem-me a casa, arranquem-me o cordão do peito, tragam-me um coração novo para que possa amar. Filha, minha filha. Depois de ti, o que me sobra? Venham todos e quem tiver coragem, que me diga, que me olhe nestes olhos, por onde a vida passou, leitos do rio, qual dor há na vida, maior que a perda de um filho? ... Leonilde".
Quando o meu filho foi raptado, ainda criança, eu chorei lágrimas de sangue, como se um vampiro me sugasse as veias e me deixasse sem alma. Não sei explicar esta dor colossal, este soçobro em que vivo. Morri naquele dia e fui morrendo paulatinamente em cada abuso infligido pelo meu marido. A minha mãe pôs-me o nome de Rita pela devoção em Santa Rita. Quando ele me ofendia em palavras, me pisava como uma folha murcha esquecida numa estação qualquer, ou molestava o meu corpo em chagas, eu fechava os olhos e mussitava “Santa Rita salvai-me deste Inferno”… O meu pássaro agitava as asas amiúde na gaiola, foi uma fiel testemunha da violência que vivi. Batia com a cauda, as penas, o bico na haste da gaiola, queria salvar-me… Um dia se o cancro não me vencer, quando eu sair deste ergástulo, serei como o meu pássaro, ganharei asas e adejarei até ao Céu. Serei uma andorinha e viajarei milhares de quilómetros e pousarei nas mãos do meu filho roubado. Depois por sua livre vontade, deixá-lo-ei partir ou ele a mim, continuarei a voar serena e livre, até repousar no manto imaculado de Santa Rita, porque o amor nada mais é que liberdade!
Escrito por Tiago Seixas, inspirado no meu romance “Os Pássaros também choram”.
"Dona Leonilde num esforço hercúleo subiu a ladeira. Guilherme tremia com a gaiola na mão. Ora dava a mão à velhinha ora vigiava a rola Piaf. "Temos de a libertar, desde que a Rita morreu ela não canta..." Um fio de sol transverberou entre um rosto moldado pelas rugas e um rosto imberbe. Abriu a porta da gaiola e Piaf evolou no ar, desaparecendo ao longe... Passados dias estava a rola sobre a pedra fria da sepultura de Rita... Também os animais como as pessoas querem voltar ao lugar onde estão os seus."
JORNAL O PROGRESSO DE PAREDES
OS PÁSSAROS TAMBÉM CHORAM
Das personagens que coabitam no mesmo prédio e se moldam à volubilidade da vida, imiscuindo-se nos dramas alheios, surge o jovem Guilherme, cuja veleidade é ser um escritor de sucesso que almeja obsessivamente um amor idílico até sevandijar-se. Do outro lado da cidade, cicia a solidão, Dona Leonilde, uma velhinha cujo rapto do neto, a fez sucumbir à alienação mental. É através do diário, de Maria Rita, sua filha, molestada por um cancro e vítima de violência doméstica, que os dois constroem uma relação egrégia de afetos e compaixão. Guilherme para mitigar o sofrimento da idosa assume o papel do neto desaparecido e rende-se à sua ternura. Numa narrativa inspiradora, o autor reflete sobre diversos sentimentos como a perda, a paixão, o ódio, o perdão, mormente, a complexidade humana e reitera que só o amor transforma o mundo. É como se dos seus dedos brotassem rosas, que ele oferece ao leitor para que as desfolhe e e para que viaje nas asas de um sonho.
OS PÁSSAROS TAMBÉM CHORAM
Aqui está o meu novo livro A violência doméstica, o cancro, a solidão nos idosos, o conflito de gerações, o rapto de um filho, o sentimento de culpa, um amor platónico, são algumas temáticas abordadas no livro. Um homem que quase morre pelo amor de uma mulher, descobre no revés da vida, que há muitas formas de amar. Porque a vida não é o que almejamos, é o que é. No seu ato nobre de voluntariado conhece Dona Leonilde, uma velhinha que vive numa solidão imensa culpando-se pelo rapto do neto. Esse homem, para lhe mitigar o sofrimento assume esse papel, em passagens comoventes, de compaixão e solidariedade. Mas é nas palavras de Maria Rita, que escutamos um grito gutural, à nossa consciência, como cidadãos e seres-humanos. Ela descreve os abusos e o modo como viveu a violência doméstica e o cancro. A esta tela, pincelada com matizes cinzentas, há toques coloridos, repletos de humor e sátira. É um livro apaixonante, quase poético, que vai fazer-nos repensar sobre diversas situações. As personagens são circulares, como se ganhassem asas e evolam num céu de palavras prolixas. Nada é previsível e no fim do livro muitas são as surpresas. No que concerne, à capa, o pássaro estava preso na sua gaiola e assistiu a toda a desdita da mulher, às agressões que lhe foram infligidas e condoeu-se com a sua dor, daí o título metafórico, "Os Pássaros também choram".